terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dança da Vida – Dancing The Dream


Não consigo escapar da lua. Seus raios suaves cortam a cortina à noite. Eu nem tenho que ver – uma boa energia azul deita sobre minha cama e fico bem. Eu desço com pressa pelo corredor escuro e abro a porta, não pra sair de casa mas pra voltar à eles. “Lua. Estou aqui!” eu grito.

“Ótimo,” ela responde.  “Agora dance um pouco pra gente.”
Mas meu corpo começou a se mover antes de ela dizer isso. Quando começou? Não me lembro – meu corpo sempre esteve se movendo, desde criança eu tenho reagido à lua desta maneira, como seu lunático favorito, não é só dela. As estrelas me puxam, perto o bastante pra que eu veja sua encenação de brilho. Elas dançam também, fazendo um movimento suave molecular que faz meus átomos de carbono pular em tempo.

Com meus braços abertos, eu caminho até o mar, que traz outra dança a mim. A lua dança devagar, e suave com sua sombra azul na grama. Quando a maré sobe, eu ouço o coração da terra, e a sincronia se ajusta. Vejo os golfinhos pularem naquela espuma branca tentando voar, e quase voando com as ondas os levantam para o céu alto. Suas caldas deixam arcos de luz como o plâncton nas ondas. Uma turma de peixes aparece, piscando em prata na luz da lua como uma constelação.

“Ah!” o mar diz, “Agora estamos reunindo uma plateia.”

Eu corro pela praia, chutando as ondas com o pé e desviando delas com o outro. Ouço sons baixos – uma centena de caranguejos assustados cavam seus buracos, só por precaução. Mas estou correndo agora, ora nas pontas dos dedos, ora o mais rápido possível. Jogo minha cabeça pra trás e uma nebulosa diz, “Rápido agora, gire!”

Rindo, abaixando a cabeça pra ter equilíbrio, eu giro o mais rápido que posso. Este é meu favorito, porque contém uma segredo. Quanto mais rápido eu giro, mais parado estou por dentro. Minha dança é movimento, silenciosa por dentro. Assim como amo fazer música, é a música nunca ouvida que nunca morre. E o silêncio é a minha verdadeira dança, apesar de não se mover. Fica de lado, como meu coreógrafo de graça, e abençoa cada movimento.

Eu me esqueci da lua, do mar e dos golfinhos, mas faço parte da alegria deles mais do que nunca. Tão longe quanto uma estrela, tão perto como um grão de areia, a presença sobe, cintilante com luz. Poderia ficar ali pra sempre, é tão amável e quente. Mas toque uma vez, e a luz reluz de repente. Me estremece e agita, e eu sei que é meu destino mostrar aos outros que este silêncio, esta luz, esta benção é minha dança. Eu ganho este presente apenas para dar novamente.

“Rádio, dê!” diz a luz

Como nunca fiz antes, tentei obedecer, inventando novos passos, novos gestos. De repente eu senti onde estava, correndo subindo a colina, a luz do meu quarto está acesa. Começo a sentir meu coração batendo, meus braços sonolentos, o sangue quente me minhas pernas. Minhas células querem dançar mais devagar. “Podemos andar um pouco?” elas perguntam. “Foi uma loucura.” “Claro”. Eu respondi rindo, e diminuindo o passo.
Viro a maçaneta, levemente ofegante, feliz por estar cansado. Rastejando até minha cama, me lembro de algo que sempre tive dúvida. Dizem que algumas estrelas que vemos não estão lá. A luz delas levam milhões de anos pra nos alcançar, e tudo o que fazemos é olhar pro  passado, pra momentos mortos quando as estrelas ainda poderiam brilhar. “Então o que uma estrela faz quando para de brilhar?” Eu me pergunto. “Talvez morra.”

“Oh não,” uma voz em minha mente diz. “Uma estrela nunca morre. Apenas vira um sorriso e volta a música cósmica, a dança da vida.” Gostei desse pensamento, o último que tive antes de meus olhos fecharem. Com um sorriso  eu volto a música em mim.

 
( Poema do livro Dancing The Dream – Michael Jackson )



 
 

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